sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

VII

Deixei que entrassem e depois fui sentar-me nas últimas cadeiras. Ao longo da pequena viagem até ao quarteirão, onde mora a Bruna, ainda tive tempo de ouvir a menina Alice contar algumas anedotas e meter-se comigo.
            - O menino tem idade para ser meu neto. Quer dar-me uma ajuda a descer?
Imediatamente peguei num dos sacos.
            - Obrigado, menino.

Muitos dos passageiros desciam naquela paragem. Enquanto aguardávamos na fila, a menina Alice perguntou-me:
            - O que queres ser?

Pensava na resposta quando chegou a vez da menina Alice sair e despediu-se:
- Obrigado.

Lesto - e ainda a pensar na pergunta “O que queres ser?” -, iniciei a caminhada até à casa da Bruna. Era sábado à tarde, havia muitas famílias a passearem os filhos nos espaços verdes. Outros grupos encaminhavam-se ruidosamente para o futebol entoando cantos. Há muito que não ia ao futebol. Apesar de gostar de Ronaldo, o sedutor da bola, admiro o jogo coletivo, a sua capacidade de nos fazer sonhar. Com Figo e Ronaldo aprendi que o jogo e a beleza vivem no gume da emoção. 

Há sempre mais sonho para além do horizonte onde acreditamos existirem novas causas, mesmo as que mudaram a História. Foge-me o pensamento, a Bruna está em todo o lado, é a inquietação em todos os meus passos, uma presença inevitável. Quando não sabemos nada dos outros, é mais fácil falarmos de nós, na esperança de que seja possível ler os lábios no silêncio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário