sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

IX


Na mesma direção vimos chegar o Daniel. Mal nos viu apressou o passo e desapareceu sob a copa das árvores. A mãe da Bruna chamou-nos para a mesa, agora estávamos todos, já a Alma estava na sala com um olho aberto e outro fechado, verde e reluzente. Ao aproximarmo-nos ficou de barriga para o ar à espera de mimos. Sentei-me ao lado do Santiago, para continuarmos a conversa que tínhamos iniciado na varanda.

            - Sabes, estive a pensar no título da peça e acho-o um pouco longo – disse o Santiago.
Fomos interrompidos pela anfitriã com leite quente.

            - Talvez tenhas razão, mas o mais importante é que se diga bem, que possa dançar o Lago dos Cisnes e que não atrapalhe a língua no céu-da-boca.

           - Como é isso de atrapalhar a língua?

           - É como dizer que amamos alguém. Por exemplo: És a luz de um sol que nasce quando sorris. Entendeste?

           - Então, um título pode ser uma metáfora – concluiu o Santiago.

Às vezes, deitava um olhar a Bruna, que se encontrava na outra ponta da mesa. Aos poucos as conversas misturavam-se, o Daniel defendia que a peça devia ser uma oportunidade para alguma crítica social. Mas era importante não esquecer que pretendíamos surpreender a nossa amiga Leonor – e não havia muito tempo.

          - Podemos ficar aqui a trabalhar ou vamos para o meu quarto – sugeriu a Bruna.
Quase a terminar o lanche, o pai veio desejar-nos bom trabalho com a Alma ao colo e voltou para a sua leitura.

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