Na mesma direção vimos chegar o Daniel. Mal
nos viu apressou o passo e desapareceu sob a copa das árvores. A mãe da Bruna
chamou-nos para a mesa, agora estávamos todos, já a Alma estava na sala com um
olho aberto e outro fechado, verde e reluzente. Ao aproximarmo-nos ficou de
barriga para o ar à espera de mimos. Sentei-me ao lado do Santiago, para
continuarmos a conversa que tínhamos iniciado na varanda.
-
Sabes, estive a pensar no título da peça e acho-o um pouco longo – disse o
Santiago.
Fomos interrompidos pela anfitriã com leite
quente.
-
Talvez tenhas razão, mas o mais importante é que se diga bem, que possa dançar
o Lago dos Cisnes e que não atrapalhe a língua no céu-da-boca.
-
Como é isso de atrapalhar a língua?
-
É como dizer que amamos alguém. Por exemplo: És a luz de um sol que nasce
quando sorris. Entendeste?
-
Então, um título pode ser uma metáfora – concluiu o Santiago.
Às vezes, deitava um olhar a Bruna, que se
encontrava na outra ponta da mesa. Aos poucos as conversas misturavam-se, o
Daniel defendia que a peça devia ser uma oportunidade para alguma crítica social.
Mas era importante não esquecer que pretendíamos surpreender a nossa amiga
Leonor – e não havia muito tempo.
-
Podemos ficar aqui a trabalhar ou vamos para o meu quarto – sugeriu a Bruna.
Quase a terminar o lanche, o pai veio
desejar-nos bom trabalho com a Alma ao colo e voltou para a sua leitura.
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