Decidimos trabalhar no quarto, sentados no
chão, ao redor da cama, onde retomámos a leitura do texto da sessão anterior,
na fala da Árvore.
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Essa ideia de pôr a árvore a falar é muito interessante – disse o Daniel. Acho
mesmo que uma árvore tem muito a dizer.
- Pelo menos a nossa – retorquiu a Bruna.
- Sim, as árvores nem sempre ficam de pé, elas são a outra memória da indiferença
dos homens, resistem ao silêncio e às catástrofes – completou o Daniel.
Aos poucos o texto ia ganhando forma, os
cenários imaginados e as personagens cresciam, adquiriam vida própria, éramos
apenas a voz num corpo emprestado. A Árvore
assumia o protagonismo, representava a natureza e o que de melhor ela significa
para o Homem. Vivemos um tempo difícil, em que a sobrevivência da nossa espécie
depende daquilo que fizermos pelo ambiente e gestão dos recursos. Por isso, a Árvore é a voz da floresta, um grito,
um alerta, um convite à inteligência. Mas pode ser, também, uma outra maneira
de dizermos que há pessoas como a Leonor que gostariam de não ficar paradas.
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Acho que a cena deve começar sem luz, enquanto se ouve uma voz:
“Numa cidade
imaginária a pressa não deixa as pessoas viverem. Há muito a fazer e o sol
deixa marcas de melancolia.”
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E lentamente o foco vai iluminando uma cadeira de rodas, o som é de carros e
pessoas à hora de ponta de uma grande cidade – continuou o Santiago.