Ela tocava à campainha, a porta abria-se e a minha mãe gritava sobre o corrimão enquanto olhava para o fundo das escadas. A Leonor entrava, mas não conseguia subir, por isso, a minha mãe descia rapidamente os degraus dos três pisos até ao hall. Abraçava a pequena Leonor e começavam a subir. O prédio era antigo, não tinha elevador. Demoravam algum tempo. A minha mãe descansava em cada lance de escadas até chegarem, finalmente, à nossa casa.
Na primeira visita da Leonor, a minha mãe preparou uma limonada fresca, as aulas tinham terminado e as temperaturas eram próprias do verão. Nunca mais esqueço a primeira vez em que a Leonor esteve a brincar comigo. A naturalidade com que enfrentava as suas dificuldades fez-me pensar o quanto eu era um menino privilegiado. Naquela noite custei a adormecer, pensava como era difícil viver como a Leonor. As férias tinham chegado e eu queria passear, jogar à bola, correr, saltar e ir ao cinema com os meus amigos. Talvez a Leonor quisesse o mesmo, mas as suas pernas não lhe permitiam.
As cidades ainda têm muitas barreiras para as pessoas deficientes. Enquanto estava acordado pensei que seria interessante organizar uma festa na casa da Leonor e levar todos os nossos amigos. Assim, faríamos uma surpresa e ajudaríamos a Leonor a sentir-se menos sozinha. No dia seguinte, fiz uma lista dos nossos amigos e comecei de imediato a contactá-los para prepararmos a festa surpresa.
António Vilhena